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Foto do escritorSilvio Carneiro

Cultura em Festa: Folia Literária Internacional do Amapá Celebra Arte e Literatura às Margens do Rio Amazonas

Foto: Aog Rocha/GEA

Dos dias 7 a 10 de novembro, o Parque do Forte, em Macapá, tornou-se palco de um encontro vibrante com muita arte e música, mas onde a literatura reinou soberana. Assim foi a segunda edição da Folia Literária Internacional do Amapá. O evento, realizado às margens do Rio Amazonas, reuniu talentos locais, nacionais e internacionais, oferecendo um verdadeiro espetáculo cultural. Entre os destaques da noite de abertura, estavam a apresentação do cantor Lenine, performances de marabaixo – a tradicional dança do Amapá – e manifestações artísticas que celebraram a riqueza da diversidade cultural brasileira.


Foto: Adriano Cardoso/GEA

“Esse espaço foi feito para cada um de vocês”, declarou o governador Clécio Luís na cerimônia de abertura. Em discurso emocionado, ele enfatizou a importância de iniciativas que promovem a leitura e a criatividade no estado. “Queremos levar a arte para todos os municípios, estimular a cultura criativa e enriquecer a história do Amapá. A palavra tem o poder de formar cidadãos mais conscientes e críticos”, afirmou.



Homenagens que tocam o coração


Foto: Adriano Cardoso/GEA

A edição deste ano rendeu tributos especiais ao escritor Fernando Canto, falecido poucos dias antes e homenageado in memoriam, e à poetisa Maria Helena Amoras, celebrando a contribuição de ambos para a cultura amapaense. Sônia Canto, viúva de Fernando, emocionou o público ao lembrar o legado do marido: “Ainda é difícil falar sobre o amor da minha vida, mas sei que ele vive no coração de todos os amapaenses. Fernando dedicou sua vida à nossa cultura, e essas honrarias são mais que merecidas”, disse.


Foto: Adriano Cardoso/GEA

Representando Maria Helena, o bisneto Alessandro Brandão leu uma mensagem enviada pela poetisa que reside em Belém-PA e que, por questões de saúde, não pôde comparecer. “Agradeço imensamente pelo reconhecimento. A Folia é um movimento de celebração às artes do Amapá, reunindo professores, alunos, escritores e todos os que buscam conhecimento”, destacou a mensagem.



Uma Programação para Todos


Inspirada no sucesso de sua estreia em 2023, a Folia Literária deste ano ampliou sua programação, oferecendo um vasto leque de atividades. Além das apresentações culturais e shows musicais, o público teve acesso a exposições, lançamentos de livros, mesas temáticas, oficinas e encontros com grandes nomes da literatura brasileira e internacional.

Promovida pelo Governo do Estado do Amapá, em parceria com a Secretaria de Cultura e a OCA Produções, a iniciativa reforça o compromisso com o fortalecimento do mercado editorial e a formação de novos leitores.


O Zezeu esteve presente pela primeira vez como editora durante todo o evento com um dos estandes mais alegres e movimentados, trazendo uma programação paralela de lançamentos de 17 novos títulos de seu catálogo.

A seguir, você acompanha um pouco de tudo o que rolou na grande festa da literatura no Amapá.


Mesas temáticas

Mesas temáticas e debates ofereceram uma rica troca de saberes, explorando as muitas dimensões da literatura, da ancestralidade às fronteiras culturais, passando pela integração com outras artes.



Foto: Lidiane Lima/GEA

A Voz da Ancestralidade: Literatura Indígena em Destaque

A sala Aldeia dos Saberes foi palco de uma emocionante apresentação da professora e narradora Lúcia Tucuju, da etnia Galibi-Marworno. Com histórias que remetem às cantigas de sua avó, Lúcia conduziu o público por reflexões sobre identidade e ancestralidade. Ela compartilhou como sua trajetória literária começou em sala de aula, usando as tradições de seu povo como ferramentas pedagógicas. "A Folia é um espaço essencial para conectar as pessoas à riqueza cultural do Amapá por meio da literatura, do teatro e do cinema", destacou.



Foto: Lidiane Lima/GEA

Formação de Leitores: Literatura Infantil e Juvenil

No auditório Barracão das Multivozes Francisco Valentim, o debate "Literatura Infanto-Juvenil e Formação de Leitores" reuniu os escritores Francisco de Assis Valentim, Angela de Carvalho e Elaine Oliveira. A conversa abordou a importância da leitura no desenvolvimento emocional e intelectual das crianças e jovens. Francisco descreveu a leitura como um "passaporte para descobertas", enquanto Angela enfatizou a relevância de histórias que dialoguem com a realidade local, promovendo pertencimento e identidade cultural.



Foto: Israel Cardoso/GEA

Mercado Editorial Amazônico: Entre Desafios e Oportunidades

O painel "Mercado Editorial na Amazônia" trouxe à tona os desafios enfrentados por autores regionais, especialmente no mercado digital. Silvio Carneiro, da editora O Zezeu (AP), apontou a necessidade de equilibrar o valor artístico das obras com sua comercialização. Já o poeta paraense Marcílio Costa, da Mezanino Editorial (PA) defendeu a formação de leitores desde a infância como estratégia para fortalecer o mercado literário e promover transformações sociais.



Foto: Adriano Monteiro/GEA

Negritude e Identidades: Literatura Negra em Evidência

A literatura negra ganhou espaço em um encontro sobre "Negritude e Identidades da Amazônia", que contou com a presença de Negra Áurea, Rosa Acevedo e Suzy Santos. As discussões ressaltaram a importância de valorizar a cultura afro-amazônica e sua contribuição para a identidade regional. Suzy elogiou o impacto do evento em sua formação docente, destacando a possibilidade de levar essas reflexões para a sala de aula.



Foto: Lidiane Lima/GEA

Música e Literatura: Uma Harmonia Criativa

No debate "Literatura e Música", artistas como Zé Miguel, Thiago Amud e Nilson Chaves exploraram a conexão profunda entre essas duas expressões artísticas. Thiago definiu a música como uma "literatura cantada", enquanto Zé Miguel destacou o papel da música na preservação das tradições amazônicas. "Eventos como a Folia são fundamentais para levar nossa cultura ao mundo", afirmou.



Foto: Adriano Monteiro/GEA

Fronteiras Literárias: Um Diálogo Cultural

O tema "As Literaturas de Fronteira" reuniu autores como Dominique Martin, da Guiana Francesa, e Ana Caroline Santos, do Amapá. O debate abordou como as narrativas de fronteira conectam povos e culturas, funcionando como pontes simbólicas que transbordam os limites geográficos. "Os rios não dividem, eles unem nossas histórias", declarou Dominique.



Foto: Jorge Júnior/GEA

Literatura LGBTQIA+: Histórias de Resistência e Visibilidade

A roda de conversa com escritores LGBTQIA+ foi um dos momentos de maior impacto da programação. Sophia Pinheiro, Rodrigo Mergulhão e Gabriel Yared discutiram a representatividade e os desafios enfrentados pela comunidade no mercado editorial. "A literatura é uma forma de resistência e visibilidade social", afirmou Rodrigo, emocionando o público.



Foto: Jorge Júnior/GEA

Literatura, Política e Memória: O Poder das Palavras

Fechando a série de debates, Lulih Rojanski e Maurício Melo Júnior discutiram as relações entre literatura, política e memória. Suas obras recentes, como "Feras Soltas" (Lulih Rojanski; Patuá, 2023) e "Sujeito Oculto" (Maurício Melo Júnior; Patuá, 2024), exploram temas contemporâneos e históricos, provando que a literatura pode ser tanto um espelho da sociedade quanto uma ferramenta de transformação.


Oficinas

As oficinas têm se destacado como espaços de aprendizado, troca de saberes e fortalecimento cultural. Entre debates e apresentações artísticas, a Folia também abriu espaço para capacitações práticas e reflexões estratégicas, engajando participantes em discussões sobre políticas públicas e explorando formas criativas de contar histórias.



Plano Nacional de Cultura: Construindo o Futuro da Cultura Brasileira

No espaço Aldeia dos Saberes, uma oficina sobre o Plano Nacional de Cultura (PNC) reuniu representantes culturais do estado para discutir diretrizes e metas de longo prazo. Coordenada pela Secretaria de Estado da Cultura, a atividade integra um esforço nacional de planejamento cultural para os próximos 10 anos.

Mirela Araújo, coordenadora geral do Comitê do PNC, enfatizou a importância da colaboração entre governos estaduais e sociedade civil. "O PNC é um projeto coletivo que reflete os anseios culturais do Brasil. A escuta ativa dos estados, como estamos fazendo aqui no Amapá, é essencial para que o plano seja inclusivo e efetivo", afirmou.

Rayanne Penha, representante do Ministério da Cultura no estado, destacou o compromisso em ouvir diferentes vozes para criar um plano representativo. Já o conselheiro do audiovisual, Marcelo Lima, trouxe à tona o impacto positivo das Leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc, que impulsionaram a produção cultural no Amapá e abriram novas oportunidades para artistas locais.



Foto: Lidiane Lima/GEA

Oficina de Fantoches: Criatividade em Movimento

Enquanto estratégias culturais eram debatidas, a criatividade tomava forma na oficina de fantoches, ministrada pela artesã Maria do Rosário. Voltada para jovens e adultos, a atividade ensinou técnicas de confecção e manipulação de bonecos, além de estimular o desenvolvimento de histórias e personagens.

Maria do Rosário compartilhou sua alegria em conduzir a oficina, destacando o impacto do trabalho na formação artística dos participantes. “É gratificante transmitir meu conhecimento e ver como essa arte pode inspirar e transformar vidas”, disse.

Entre os alunos, a artesã Lucidalva Pena revelou como a experiência vai enriquecer seu trabalho e abrir novas possibilidades. “Além de ser uma forma de expressão criativa, a produção de fantoches pode se tornar uma fonte de renda, especialmente em feiras e eventos”, comentou, entusiasmada com as novas perspectivas.


Fortalecendo a Cultura Local

As oficinas da Folia Literária exemplificam o compromisso do Governo do Estado do Amapá com a promoção de aprendizado e acesso à cultura. Sejam debates sobre políticas públicas ou atividades práticas como a criação de fantoches, o festival continua a fomentar a participação ativa da sociedade, contribuindo para um futuro mais criativo e inclusivo no estado.

Com a integração entre planejamento estratégico e expressão artística, a Folia Literária reafirma seu papel como catalisadora de transformações culturais, proporcionando momentos de inspiração, capacitação e celebração das múltiplas formas de fazer arte.


Lançamentos

A Folia Literária Internacional do Amapá reafirmou seu papel como vitrine da literatura regional, promovendo o lançamento de obras que celebram a diversidade de vozes e talentos locais. Durante todo o evento, novos livros foram apresentados ao público, demonstrando o vigor da produção literária no estado e o compromisso do governo com a valorização de seus escritores.


Foto: Aog Rocha/GEA

Editora O Zezeu e o Crescimento do Mercado Editorial

Entre os destaques, o Governo do Estado lançou quatro livros por meio da editora amapaense O Zezeu, criada para fomentar a literatura local. Obras como "Escrita Criativa - Contos e Poemas" e "Varal de Poesia 2023" ganharam espaço de destaque, celebrando a força criativa dos autores regionais, resultado da primeira edição do evento, realizado em outubro do ano passado.

A coletânea "Varal de Poesia 2023", que reúne 52 escritores, é um exemplo da diversidade da poesia produzida no Amapá, inspirada por uma instalação artística onde poemas foram pendurados como roupas em cordas. O projeto reflete a riqueza de estilos e perspectivas da literatura local.


Foto: Aog Rocha/GEA

Clícia Vieira Di Miceli, secretária de Estado da Cultura, ressaltou o impacto da Editora O Zezeu na democratização do mercado editorial e no fortalecimento das políticas culturais do estado. “Essa iniciativa respeita nossos autores e garante qualidade em suas publicações, além de projetar nossa literatura para além das fronteiras do Amapá”, afirmou.

Outros dois livros importantes lançados pelo Governo do Estado por meio da Editora O Zezeu foram as obras "Duro Artefato", de Íbis Amazonas e "Simãozinho Sonhador e o ABC da Mulher", de Simão ALves de Souza, o Simãozinho Sonhador. Estas obras fazem parte do programa de governo para reedição de obras de autores amapaenses já publicados, como forma de preservar estas obras em edições de melhor qualidade gráfica e editorial.



Foto: Aog Rocha/GEA

"Sendas de Ápacam": Mitologia Amazônica e Poesia

Na sexta-feira, 8, o espaço Gengibirra Literária Isnard Lima recebeu o lançamento de "Sendas de Ápacam", novo livro do poeta Joãozinho Gomes. Parte de uma trilogia que explora conexões entre mitologia amazônica e grega, a obra representa a culminância de mais de cinco décadas de dedicação à poesia.

Joãozinho, também curador da Folia Literária, destacou o evento como um espaço transformador para a cultura amapaense. “A Folia é fruto de políticas culturais sensíveis e comprometidas, que incentivam nossos talentos e resgatam a essência da nossa identidade”, declarou.



Foto: Israel Cardoso/GEA

Novos Autores e Formatos Alternativos

O palco livre Ibis Amazonas foi espaço para o lançamento de obras que conectam o público a novas narrativas e formatos criativos. No sábado, 9, a autora Ana Cristina Tracaioly apresentou o livro infantojuvenil "A saga do periquitinho", que aborda temas universais como perdas e superação, incentivando jovens leitores a compreenderem os desafios da vida com sensibilidade.

Já Bárbara Costa Ribeiro lançou o fanzine "Morada da Chuva", uma homenagem intimista à sua avó Maria de Nazaré. Com textos que resgatam memórias afetivas e exploram a saudade, a obra ilustra como histórias familiares podem ganhar forma literária e se conectar com o público.

Bárbara destacou o acolhimento da Folia Literária a formatos não convencionais de publicação, enfatizando o compromisso do evento com a diversidade de expressões culturais.


Outras atividades



Foto: Lidiane Lima Seed

Conexão entre Academia e Comunidade

A Universidade Estadual do Amapá (Ueap) foi um dos destaques da programação, com sua exposição de painéis acadêmicos. A iniciativa, além de evidenciar a produção intelectual dos alunos de Letras, também aproximou o público de temas como a cultura amapaense na literatura e o ensino de línguas.

Entre os trabalhos, a pesquisa de Darlene Ribeiro, orientada pelo professor Francesco Marino, ganhou notoriedade ao explorar a obra bilíngue "A Estrela e a Rã", do professor Romuliano Palhano. A obra, apresentada em português e francês, mostrou-se uma ferramenta criativa para o aprendizado de línguas e despertou a curiosidade dos visitantes. A participação da Ueap no evento reforçou a importância do diálogo entre a academia e a sociedade na valorização cultural e educacional.



Foto: Jhon Martins/GEA

Atividades para Todas as Idades

A programação voltada para as crianças também foi um sucesso. Espaços de contação de histórias e brincadeiras lúdicas cativaram os pequenos, enquanto pais e responsáveis elogiaram a iniciativa como uma forma de incentivar o hábito da leitura desde cedo.

Angela de Carvalho, contadora de histórias, destacou que atividades lúdicas ajudam a desenvolver a imaginação e o interesse pela leitura. A pequena Ana Sofia, de 7 anos, declarou com entusiasmo: “Eu amo ouvir histórias!”.

Para muitos pais, como Júnior Costa, que participou com seu filho Miguel, de 2 anos, a experiência reforçou o valor da literatura no ambiente familiar. “É inspirador ver nossos filhos se encantarem com as palavras e histórias”, afirmou.



Foto: Adriano Monteiro/GEA

Noite de Música e Emoção no Palco Remanso

O Palco Remanso foi o cenário perfeito para uma noite de celebração cultural no sábado, 9. Artistas renomados, como o cantor carioca Thiago Amud e a cantora amapaense Oneide Bastos, emocionaram o público com performances memoráveis.

Oneide homenageou o poeta Fernando Canto, um dos grandes nomes da literatura local, enquanto o poeta e jornalista Eliakin Rufino e o artista João Amorim encerraram a noite com apresentações vibrantes. Para a professora Luciane Silva, que participou pela primeira vez, o evento foi uma verdadeira celebração da identidade cultural amapaense: “A riqueza de marabaixo, poesia e música foi incrível. Com certeza voltarei nas próximas edições.”



Despedida e Legado

Foto: Nayana Magalhães

A programação de encerramento no domingo, 10, reuniu milhares de visitantes para apresentações musicais de artistas como os Poetas Azuis, Ray Neiman (Suriname), Nilson Chaves, Celso Viáfora e Vital Lima, em uma noite marcada pela emoção e pela diversidade cultural.

Além das performances, o evento proporcionou oportunidades para leitores de todas as idades explorarem os estandes, adquirirem livros e participarem de lançamentos e discussões literárias. Os homenageados desta edição, Fernando Canto (in memoriam) e Maria Helena Amoras, foram celebrados por suas contribuições à literatura e à cultura do Amapá.

Participantes como Paula Barros, estudante de 23 anos, e Regiane Souza, assistente administrativa de 37 anos, destacaram o impacto positivo da Folia Literária. Para Regiane, que participou pela segunda vez, o evento “é uma experiência transformadora, que valoriza nossos artistas e coloca o Amapá em destaque no cenário cultural”.

Com sua programação plural e inclusiva, a Folia Literária Internacional do Amapá encerrou com a promessa de continuar sendo um marco para a cultura e a literatura da região, inspirando novas gerações de leitores, escritores e artistas.

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