Da ponte pra cá | Alan R. A. Silva
- Silvio Carneiro
- há 6 horas
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Em uma tarde quente de sol escaldante em Macapá, observo atentamente o caos e a precariedade que rodeiam essa cidade. Nunca foram mil maravilhas por aqui, apenas desgraças e tragédias que moldam a vida dos habitantes da periferia. É um povo lutador, que tenta sobreviver nos escombros das palafitas, abandonados e esquecidos. Essa mistura perfeita de ódio, miséria, tristeza e sofrimento cria um ambiente propício para gerar seres humanos desesperados e violentos.
Os políticos pilantras desfilam suas falcatruas pelas ruas, enquanto o povo sofre na miséria. Eles desfrutam de luxos e regalias, enquanto nós, aqui da ponte pra cá, enfrentamos as mazelas do descaso e da corrupção. Onde deveria haver merenda escolar, encontramos desvios de verbas da educação. Em cada bolso há indícios de enriquecimento ilícito, em contraste com a miséria em que vivemos. As ruas são palco de uma realidade cruel, a vulnerabilidade e a falta de alternativas empurram os jovens para o caminho da criminalidade.
Nas geladeiras do IML, corpos inertes repousam, aguardando por uma justiça que nunca chega. Nas baixadas, corpos se acumulam no chão, vítimas da violência e da negligência. Se quiser saber como realmente vivemos, venha até a ponte, testemunhe com seus próprios olhos a realidade de um povo abandonado e oprimido pelo descaso e pela ganância. É um cenário desolador, em que a falta de esperança se torna o combustível para a perpetuação dessa realidade sombria.
No meio dessa tempestade de problemas sociais, as crianças e adolescentes são cercados por tentações que logo se tornam armadilhas, dificultando qualquer perspectiva de um futuro melhor. A violência e a desesperança se tornam a única forma de sobrevivência e de expressar a revolta diante de uma realidade tão adversa. Essa é a Macapá que muitos não veem, a cidade dos contrastes e das injustiças, onde a luta diária por uma vida digna se sobrepõe à esperança de um futuro melhor. É preciso denunciar, resistir e lutar por mudanças que tragam justiça para todos os moradores dessa cidade abandonada.
Alan Rodrigues de Andrade da Silva, rapper/compositor e estudante do curso de Letras da UEAP. Nascido em Macapá- AP, residente no bairro Congós. Influenciado pela cultura Hip Hop e pela Literatura Marginal
Esse é o retrato do "cotidiano da Baixada", ou melhor, das baixadas.
Excelente texto!"Da ponte para cá" é mais do que uma experiência literária, é um relato, é uma denúncia feita com uma linguagem fluida, que carrega sensibilidade, observação aguçada, poética e crítica social. Alan constrói sua escrita de uma forma tão sensível, buscando mostrar dramas vivenciados por aqueles(as) que vivem à margem da sociedade. Vale a pena a leitura!