Amapá na Sapucaí com enredo sobre Mestre Sacaca
- juliarojanski
- há 23 horas
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Pela primeira vez em sua história, a tradicional escola de samba do Rio de Janeiro escolheu o estado do Amapá como tema de seu enredo para o Carnaval de 2026. A narrativa gira em torno da Amazônia Negra e presta uma emocionante homenagem a um dos maiores ícones da cultura popular amapaense: Mestre Sacaca.
Assinado pelo carnavalesco Sidnei França, o enredo mergulha nas raízes afro-indígenas do Amapá, dando protagonismo a uma Amazônia muitas vezes esquecida – a Amazônia que pulsa no batuque, na medicina tradicional, nas lendas e nos rituais do povo que habita o coração verde do Brasil.
No centro desse universo está Raimundo dos Santos Souza, o Mestre Sacaca, parteiro, curandeiro, rezador e pesquisador da floresta, cuja sabedoria popular se tornou símbolo da resistência e identidade amapaense.
"É um momento histórico. Estamos falando de um estado que raramente ganha visibilidade nacional e que agora será cantado por uma das maiores escolas de samba do país. A Mangueira está abrindo alas para uma Amazônia real, vivida, negra e profundamente conectada à ancestralidade", afirma Sidnei França.
O enredo não só destaca a figura de Sacaca, mas também a força da ciência da floresta, passada de geração em geração por meio da oralidade, da prática e da fé. Entre raízes, cipós e rezas, a Mangueira promete um desfile que exalta a beleza da diversidade e da resistência amazônica.
Para o povo do Amapá, ver sua história ecoar na Marquês de Sapucaí é um gesto de reparação simbólica e comemoração cultural. O estado, que carrega influências africanas, indígenas e ribeirinhas em cada canto, terá agora seus saberes populares e tradições reconhecidos diante dos olhos do Brasil e do mundo.
Mestre Sacaca, falecido em 1999, deixou como legado um laboratório vivo da natureza: o Museu Sacaca, em Macapá, que preserva seus conhecimentos sobre as plantas medicinais e o modo de vida tradicional amazônico. Sua trajetória é um espelho da Amazônia Negra — território de luta, fé, sabedoria e resistência.
A escolha da Mangueira reforça o papel do carnaval como instrumento de afirmação cultural e política. Ao colocar o Amapá no centro do desfile, a escola não só canta a beleza da Amazônia, mas denuncia também o apagamento histórico das regiões periféricas do país.
Com o anúncio, a expectativa é que o desfile de 2026 entre para a história como um marco da representatividade regional na folia carioca. A Amazônia Negra vai desfilar em cada ala, cada fantasia, cada verso do samba-enredo que começa a ser composto com o coração batendo no ritmo do marabaixo.
A Sapucaí que se prepare: o Amapá vem aí, com sua força, seu povo resistente e a bênção de Sacaca.
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