
Fernando Canto, escritor, poeta, sociólogo, partiu cedo. Ainda não havia terminado a primavera; as chuvas do inverno amazônico ainda não se derramavam sobre o seu alpendre; ainda faltava muito para celebrar merecidos 80, 90 anos; ainda não havia se iniciado a II Folia Literária Internacional do Amapá, que preparava para ele uma grande homenagem; não estava pronta a sua prometida obra reunida. Mas nos 70 anos que viveu, produziu uma das mais belas criações literárias do norte do Brasil.
Os livros escritos por Fernando Canto, desde o primeiro, Os Periquitos Comem Mangas na Avenida, até o último, concluído poucos dias antes de sua partida, são marcados pela capacidade singular de traduzir a alma da Amazônia em palavras, refletindo os costumes, as paisagens e as histórias do povo da região com um estilo que combina lirismo e crítica social.
Agora, a literatura brasileira se prepara para receber uma homenagem grandiosa ao talento criativo e à contribuição cultural de Fernando Canto, um dos maiores expoentes da produção literária amazônica. Toda a obra publicada em vida pelo escritor será lançada em três volumes pela editora O Zezeu, sob o título "Publicações Reunidas de Fernando Canto". Os volumes trarão uma seleção completa de seus poemas, contos e crônicas, além dos textos acadêmicos, desde sua estreia literária com "Os Periquitos Comem Mangas na Avenida", lançado em 1984, até suas publicações mais recentes.

Sônia Canto, viúva do escritor, tem acompanhado de perto o processo de edição e celebra a parceria entre a editora O Zezeu e a Secretaria de Estado da Cultura, responsáveis pelo projeto: “A obra do Fernando merece estar em boas mãos. Eu vou cuidar para que tudo o que ele construiu na literatura permaneça preservado”. Embora ainda não se tenha uma data oficial para o lançamento das "Publicações Reunidas de Fernando Canto", a previsão é de que os volumes cheguem às mãos do público no segundo semestre de 2025.
Parceria especial

A Secretária Estadual de Cultura, Clícia Di Miceli, destaca que o Governo do Amapá vem investindo na republicação de autores locais, resgatando um legado literário que não pode ser esquecido pelas novas gerações. Como resultado dessa iniciativa, livros de autores como Simãozinho Sonhador e Ibis Amazonas foram republicados e distribuídos gratuitamente durante a II Folia Literária Internacional do Amapá, em novembro passado. "É importante para toda a sociedade do Amapá que a obra de Fernando ganhe esse reconhecimento tão merecido. Ele sempre acreditou no poder da literatura para preservar e valorizar nossa identidade cultural e tenho certeza de que esses volumes serão uma inspiração para as gerações presentes e futuras", disse a Secretária.
O primeiro romance

Além das Publicações Reunidas, a editora O Zezeu fará o lançamento do último livro escrito por Fernando Canto, seu primeiro romance, Cabeças de Vidro, concluído poucos dias antes da internação da qual o autor não voltou para casa. Sônia Canto ressalta que “este é um livro muito esperado por todos aqueles que conhecem a obra do Fernando e sabem que um romance lavrado por suas mãos será uma fonte de deleite e ao mesmo tempo saudade”. Fazemos nossas as suas palavras. Cabeças de Vidro será também lançado no segundo semestre deste ano.
Legado de criatividade e paixão pela Amazônia
Nascido em Óbidos, no Amazonas, mas criado e vivido em outros cantos amazônicos, como Pará e Amapá, Fernando Canto destacou-se como um prosador e poeta comprometido com a representação autêntica da Amazônia. Construiu uma carreira literária marcada pela originalidade. Sua obra é permeada por temáticas regionais, misturando as tradições folclóricas e o imaginário popular com questões contemporâneas, como a preservação ambiental e as transformações culturais.
Publicou diversos livros de poesia e prosa, sendo reconhecido por sua contribuição à literatura brasileira. Sua escrita, marcada por uma linguagem poética intensa e pelas imagens vivas da floresta e dos rios, conquistou leitores dentro e fora da Amazônia. Títulos célebres de sua autoria, como Mama Guga, O Centauro e as Amazonas e Canção do Amor-Enchente, contribuíram para consolidar seu nome como um dos maiores intérpretes da cultura amazônica.
Com as Publicações Reunidas, o legado de Fernando Canto será revivido e redescoberto por novos públicos, reafirmando a importância de sua contribuição à literatura. A iniciativa de preservação e difusão de sua obra ressalta o valor perene da literatura como um espelho da identidade de um povo e um testemunho da imaginação criadora de seus autores.
Nosso autor maior
Nascido em 29 de maio de 1954, Fernando Pimentel Canto foi sociólogo, professor, poeta, cronista, contista e músico. Fundou, nos anos 1980, o Grupo Pilão, do qual também foi membro, com mais de 100 músicas gravadas e premiação em diversos festivais. Escreveu mais de 20 livros de contos, crônicas e poemas, alguns ainda inéditos, além de trabalhos científicos na área da sociologia e da antropologia. Um dos seus últimos trabalhos publicados em vida é Fortaleza de São José de Macapá - Vertentes Discursivas e as Cartas dos Construtores, um livro publicado pelo Senado Federal e que está disponível na Livraria do Senado.
Era presidente da Academia Amapaense de Letras e membro do Conselho Editorial do Senado Federal. Seus livros de prosa e poesia são: Os Periquitos Comem Mangas na Avenida, Telas e Quintais, Fedeu Morreu, Adoradores do Sol, O Balsamo e Outros Contos Insanos, Equino-cio, A Água Benta do Diabo, Mama Guga, O Centauro e as Amazonas, O Marabaixo, Os Tempos Insanos, Canção do Amor – Enchente e Literatura das Pedras, entre outros.
Muito merecida a homenagem e é um enorme presente que nós tenhamos acesso à essas obras que fazem nossos olhos brilharem. Só emoção e gratidão!
FERNANDO CANTO nosso poeta maior sem dúvidas tenho certeza que todes concordam. Merece todas as horárias e os leitores merecem acessar o mais breve possível está grandiosa obra. Obrida Zezeu obrigada Sônia Canto