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Nunca nos esqueceremos

  • Foto do escritor: Silvio Carneiro
    Silvio Carneiro
  • 7 de ago.
  • 2 min de leitura

Crônica de Lulih Rojanski


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Nunca esqueceremos Coimbra. Esta é uma daquelas verdades que não precisa de assinatura nem testemunhas, porque pulsa no peito, vibra nas lembranças narradas e nas fotografias revistas no gesto diário. Foi lá que descobrimos que as pedras podem ter memória, que os muros sussurram versos e que o vento, às vezes, sopra em português antigo. Coimbra nos olhou com seus olhos de azulejo e deixou que nos sentássemos ao seu lado feito velhos conhecidos.

Trouxemos a alma impregnada de uma história que não se lê só em livros, mas nas esquinas que dobramos sem saber onde dariam, nos sinos que marcavam a passagem do tempo com um lirismo sonoro, nos cafés que inspiravam palavras mais quentes. Coimbra nos deu sua paisagem de cores suaves, como se toda cidade tivesse sido pintada com dedos de poeta: o azul da água refletindo o céu, o ocre das paredes, as tardes em sépia.


E havia a poesia! A poesia que moveu nossos passos, como dentro de um poema em que as estrofes se chamavam escadarias, vielas, janelas abertas com cortinas bailando. Coimbra foi verbo em nosso corpo: caminhar, contemplar, pertencer.

Trouxemos Coimbra na bagagem, nas páginas dos livros, na saudade daqueles que nos cativaram o coração, no gosto das cerejas maduras, no retrato de seu crepúsculo tardio perpetuado no fundo do olhos.


Mas Coimbra também ficou com algo de nós...

Deixamos nossos nomes sussurrados nos becos, nossos risos guardados nas praças, nossos olhares presos no alto das torres. Deixamos palavras soltas no ar — uma despedida, um pensamento inacabado, um “obrigado” com sotaque emocionado. No calor de cada abraço trocado com quem por lá cruzou nosso caminho ficou uma centelha de quem somos.


Coimbra não nos esquecerá. Ainda que o tempo dissolva os rostos, ela se lembrará das almas. Somos parte do seu azul do céu, do seu chão de pedra polida por séculos de passos. Somos uma história a mais entre tantas. Um sopro, talvez. Mas sopros também levantam folhas, também espalham sementes.


E se um dia voltarmos — e um dia sempre volta — ela nos reconhecerá.



 
 
 

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