Luzes do céu e da alma | Daniela Rodrigues
- Silvio Carneiro
- há 17 horas
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Existe em mim um espírito que ninguém consegue arrancar. Todo ano ele floresce, e é impossível escondê-lo. Costuma despertar no início de novembro, quando o tempo muda e o céu do Amapá parece acompanhar a transformação que acontece dentro do meu ser. As árvores, em lugar de flores se vestem de luz, uma esfera divina une céu e terra em sintonia perfeita.
Lembro-me do meu tempo de criança quando íamos para o interior, reencontrar os familiares, quatro horas viajando de barco, cortando os rios para abarcar em um lugar dividido. A natureza fazia a decoração com espetáculos indescritíveis de beleza natural. Tudo organizado para uma festa que unia gerações. Minha tia mandava matar um boi, outro tio levava um porco, a festa começava cedo, frango à cabidela, pato no tucupi, boi e porco assado na brasa, acompanhados de vinho tinto para os adultos e refresco para as crianças.
Mas antes de tudo acontecia o culto, esse abria, de fato, a noite de Natal. Tudo era mágico, os cantos, as encenações, o lugar. Minha tia Luíza era a anfitriã, preparava tudo com muito carinho, festa que durava até a virada do ano. Fatalmente doente, titia não conseguiu mais reunir a família, posteriormente veio a falecer. Quando tentamos refazer os momentos vividos com ela não conseguimos, parecia que algo em nós se apagou.
Certo dia, reunidos para a festa de Natal, no momento da ceia estávamos cabisbaixos, parecia uma noite sem sentido, foi então que, na seleção de músicas, começou a tocar “Noite feliz”, era a música que não faltava nas seleções de tia Luíza, e, assim, em um estalar de dedos fomos reportados para aquele cenário de minha infância. Quando percebemos, estávamos todos cantando felizes, entendemos que titia passou aquela mensagem: a de que queria que estivéssemos felizes porque, afinal, era Natal.
Todos os anos nos reunimos para rememorar, com o desejo de manter viva as lembranças, celebrar e viver os costumes próprios de meu povo.
O que peço à Deus é que esse espírito continue florescendo em mim a cada dezembro, lembrando-me de que o verdadeiro Natal (sobre)vive onde há amor, partilha e fé.
Daniela Rodrigues é universitária do curso de Letras da Universidade do Estado do Amapá (UEAP). Integra o Coletivo literário Ventos do Norte, dedicado à produção independente de zines. Apaixonada pela literatura, acredita na palavra como força criadora e transformadora.





Que lindo 🥹🌹