A Voz da Resistência: Ivaldo Souza e o Afrologia Tucuju no Dia da Consciência Negra
- Silvio Carneiro
- há 9 minutos
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No Dia Nacional da Consciência Negra, celebrado hoje (20), dedicamos este momento para refletir sobre a luta, a resistência e as contribuições da população negra na construção do Brasil. Esta data, que homenageia Zumbi dos Palmares, símbolo máximo da resistência contra a escravidão, é também um convite à valorização da cultura e da identidade negra em todas as suas manifestações. É nesse espírito de celebração e conscientização que entrevistamos o professor e escritor amapaense Ivaldo Souza, criador do coletivo Afrologia Tucuju, que tem desenvolvido um importante trabalho voltado para a valorização e fortalecimento da literatura afro no Amapá, enfrentando desafios e abrindo espaços para novas vozes negras na literatura nacional.
O Zezeu - Qual a importância da literatura afro para a valorização da identidade e ancestralidade do povo negro, especialmente no contexto do Amapá?
Ivaldo Souza: Dependendo do que a literatura afro vem abordando ela pode ajudar o povo negro a se enxergar com dignidade, força e história própria. Ela recupera memórias e vivências que muitas vezes foram apagadas, fortalecendo o sentimento de pertencimento. No Amapá, onde a presença de negros é grande, essas narrativas ajudam na construção de identidade e subjetividade do negro, aproximam as pessoas de suas raízes, aumenta a auto estima e oportuniza a fugir do branqueamento que historicamente o povo negro vem passando.
OZ- Quais são os maiores desafios enfrentados pelos escritores afrodescendentes no Amapá para publicar e divulgar suas obras?
IS: A falta de políticas públicas de apoio, valorização e aquisição de obras literárias com temáticas negras.

OZ- Como o coletivo Afrologia Tucuju contribui para fortalecer a presença da literatura afro no cenário literário local e nacional?
IS: Podemos considerar que nosso movimento foi quem deu início a este estilo literário, "afroa-mamapese", com uma preocupação com a educação e a construção das subjetividades do negro - isso de forma cientifica e lúdica. Em nível nacional, sempre participamos de apresentações em seminários e congressos nacionais e internacionais falando da forma literária como ferramenta pedagógica de combate ao preconceito etnico racial.
OZ- De que forma a literatura afro pode influenciar a educação e o combate ao racismo nas escolas do Amapá?
IS: A literatura afro pode mudar muito o jeito como a escola do Amapá trabalha identidade e respeito. Quando as histórias de autores negros entram na aula, os alunos passam a se ver nos livros e entendem melhor de onde vêm, o que ajuda a combater preconceitos que muitas vezes são naturalizados. Esses textos também oferecem aos professores novas maneiras de conversar sobre racismo e diversidade sem cair em discursos prontos. Ao valorizar vozes e vivências negras, a escola cria um espaço mais justo, onde todos aprendem a reconhecer e respeitar a história do outro. Assim, a literatura afro vira uma ferramenta real de transformação no cotidiano escolar. e principalmente ajuda na construção de identidade, os alunos passam a gostar de si mesmo sua auto estima cresce, passando a acreditar em seu potencial.
OZ- Quais são seus projetos futuros para ampliar o alcance da literatura afro-amapaense e incentivar novas gerações de escritores negros?
IS: Ampliar os leitores e escritores. Capacitá-los para que possam perceber o poder da literatura na construção do ser humano. Atualmente estou fazendo isso com alunos do ensino médio das regiões distantes de Macapá. Já consegui publicar 4 livros com alunos ribeirinhos e quilombolas e estou em fase de conclusão de mais 2 livros apenas com alunos.





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