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A pressa | Ori Fonseca

Foto do escritor: Silvio CarneiroSilvio Carneiro



Eu não queria escrever este ano, mas a escrita, mais do que uma expressão estética, é para mim um escape, um divã. A dor da perda precisa ser purgada, precisa ser processada, senão a alma desanda. Perdi uma amiga querida. Juliana foi alguém com quem convivi por muitos anos na mesma equipe de trabalho. Alguém com quem aprendi muito e passei a respeitar por sua firmeza de ideia e caráter. Viveu intensamente porque a curta vida, em seu caso, fez-se curta demais. E aqui vamos nós juntar caco com caco e tentar colar o que for possível.



A PRESSA



A vida foge como fumaça entre os dedos


E nos escapa a cada instante consumido,


Fugindo desesperada como um bandido


Que, atônito, se apressa entre tensões e medos.



As vidas que amamos mergulham nos segredos


Do incerto, imponderável e desconhecido.


Eu nada posso ver com meu olhar turbido,


Apenas sinto que desmoronam rochedos.



Não sei por que a fome da morte nunca cessa,


Não sei por que a Maldita nunca está saciada.


Só sei que estou repleto de um imenso nada.



Se o tempo é viajante que jamais regressa,


Se a vida é curta, e nada justifica a pressa,


Então, para onde vais assim tão apressada?

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