
Eu não queria escrever este ano, mas a escrita, mais do que uma expressão estética, é para mim um escape, um divã. A dor da perda precisa ser purgada, precisa ser processada, senão a alma desanda. Perdi uma amiga querida. Juliana foi alguém com quem convivi por muitos anos na mesma equipe de trabalho. Alguém com quem aprendi muito e passei a respeitar por sua firmeza de ideia e caráter. Viveu intensamente porque a curta vida, em seu caso, fez-se curta demais. E aqui vamos nós juntar caco com caco e tentar colar o que for possível.
A PRESSA
A vida foge como fumaça entre os dedos
E nos escapa a cada instante consumido,
Fugindo desesperada como um bandido
Que, atônito, se apressa entre tensões e medos.
As vidas que amamos mergulham nos segredos
Do incerto, imponderável e desconhecido.
Eu nada posso ver com meu olhar turbido,
Apenas sinto que desmoronam rochedos.
Não sei por que a fome da morte nunca cessa,
Não sei por que a Maldita nunca está saciada.
Só sei que estou repleto de um imenso nada.
Se o tempo é viajante que jamais regressa,
Se a vida é curta, e nada justifica a pressa,
Então, para onde vais assim tão apressada?
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