Você vem me assombrar | Dauan Lopez
- Silvio Carneiro
- 25 de jun.
- 2 min de leitura

Eu poderia deitar, deixar tudo calar,
Fechar os olhos e nunca mais levantar;
Mas o que viria, depois do fim?
Apenas o eco do que restou de mim.
Passei a evitar meu próprio espelho;
Nele, tua sombra vestia meu olhar.
Na íris cansada, teu reflexo era tudo que Eu sabia enxergar.
Nas paredes, teu vulto insiste em ficar,
Nos lençóis, teu perfume ainda posso respirar;
E nos sentimentos, tua voz de adeus
Pesa mais que o mundo, mais que os céus.
Será que os fantasmas das lendas antigas
Que a vovó contava entre noites perdidas
Eram reais? Não sei dizer;
Mas sinto os teus passos — posso até temer.
Meus pés no chão, frios de incerteza,
Me viro nos cantos com estranha leveza.
Sei que não estás, mas ainda assim...
Tua ausência arranha as paredes em mim.
Você rasteja, agouro em silêncio,
Apaga a luz que acendo por dentro.
Meu anjo cruel, por que me seguir?
Mesmo longe, ainda quer me ferir?
Tua voz sussurra, sufoca no ar.
E eu, tolo, volto a me apaixonar.
Por que, se sei que só vai machucar?
Você vem. Você vem me assombrar.
Dormir já não posso, viver é pesar.
Teu nome ecoa em cada lugar.
Nas paredes, no teto, em meu coração —
Tua presença é prisão e maldição.
Fomos calor um dia, abraço, abrigo...
Agora somos gelo, silêncio e castigo.
Tempestade fria, que insiste em ficar,
Mesmo sem estar, insiste em voltar.
Você, que não está em canto algum da sala,
É quem transforma a noite em chama rala.
Você, meu amor, minha eterna falta de ar...
Você vem me assombrar.
Dauan Lopez, estudante de letras pela UEAP, nascido em Macapá e crescido no bailique, desenvolveu um grande amor pela leitura aos 8 anos e aos 12 começou a escrever seus próprios contos. Poeta, amante de Clarice Linspector e desenhista.
Comments