Uma História de Resistência e Solidariedade

Em um pequeno sítio, uma mulher dedicada criava galinhas para vender ovos para poder sustentar sua família. Entre elas, havia uma galinha chamada Cocoricó, que tinha sido adquirida recentemente, astuta e observadora, quando começou a botar ovos, ela notou que eles desapareciam misteriosamente.
Todos os dias pela manhã, a granjeira passava retirando os ovos e a nova galinha, Cocoricó, pensava que era para serem armazenados e posteriormente postos para elas chocarem, no entanto, os dias foram se passando e nada dos ovos aparecerem.
Preocupada comentou com as outras galinhas, suas camaradas:
– Vocês já repararam que a gente está botando ovos todos os dias e não temos nenhum para chocar?
– Sim, responderam.
Cocoricó, a galinha novata, continuou perguntado:
– A quanto tempo isso acontece?
– Desde de sempre, acreditamos, pois nunca tivemos nenhum ovo para chocar.
Intrigada, Cocoricó, passou a observar, a investigar e ficou estarrecida ao descobrir a verdadeira razão: a senhora vendia todos os ovos.
– “E agora, o – que fazer? – Pensou – Sem ovos para chocar, nós não poderemos reproduzir e sem isto ficaremos sem linhagem e sem descendentes, adeus galinhas”.
Seriamente preocupada com o futuro, não só delas, mas de todas as galinhas do mundo, pois sem ovos para chocarem, elas seriam extintas.
Com base nesse raciocínio e com o medo estampado nos olhos, Cocoricó, convocou as companheiras, e após revelar tudo o que descobrira, e suas fundadas razões e receio de extinção da raça, propôs uma greve: não botariam mais ovos.
– De qualquer maneira nós estamos correndo sério risco de sermos extintas – Disse as suas companheiras, Cocoricó, que havia tomado o posto de liderança.
– É verdade, desse jeito seremos extintas. – Cocoricaram as outras.
– Se vamos deixar de existir de qualquer forma, então não vamos mais pôr ovos.
A decisão foi unânime. As galinhas cruzaram os braços, ou melhor, as asas. A produção de ovos parou completamente.
No início, a senhora não entendeu o que estava acontecendo, todos os dias, como de costume, passava recolhendo os ovos, mas a produção foi diminuindo, diminuindo, até que em menos de uma semana, parou totalmente.
Sem saber o que fazer, a granjeira, ficou bastante preocupada, pois logo percebeu o impacto: sem ovos para vender, não teria dinheiro para comprar alimentos para a sua família e muito menos ração para suas galinhas.
E desta forma, a comida começou a escassear e a faltar ração para alimentar sua criação de galinhas.
Mesmo passando fome, as galinhas, lideradas pela novata, mantinham sua posição. Elas queriam ovos para chocar e garantir a continuidade da linhagem. A senhora, desesperada, tentou negociar:
– Vou deixar alguns ovos para vocês chocarem!
– Não! – Respondeu Cocoricó – Queremos ovos suficientes para todas! – No que foi acompanhada pelas outras, que cocoricavam em cora:
– Queremos ovos para chocar, queremos ovos para chocar, queremos ovos para chocar! – E pulavam de poleiro em poleiro, ciscando o chão, levantando poeira.
– Se é assim, então vocês não terão alimentos, não que eu seja má, mas não tenho recursos para adquirir ração, já que é com a venda dos ovos que consigo alimentar minha família e vocês. – Disse a granjeira.
Mas a galinhas se mantiveram irredutíveis, nada importava, já que iriam ser extintas, tanto faz se morressem à mingua, de fome, pois de qualquer maneira, não teriam descendências.
A greve das galinhas gerou uma crise. A senhora precisou reavaliar seus métodos. Finalmente, concordou em reservar ovos para as galinhas chocarem.
A produção voltou, mas agora com um novo equilíbrio. As galinhas garantiram sua reprodução, e a senhora aprendeu a valorizar a importância da cooperação.
Cocoricó, a galinha líder, havia conquistado não apenas ovos para chocar, mas também respeito e dignidade para todas e conseguira salvar a sua descendência da extinção.
José Fernandes – Advogado e Jornalista
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