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Marco Lucchesi

Marco Lucchesi: O guardião do transfinito dos livros no Brasil

Quando fiquei sabendo da presença de Marco Lucchesi em Macapá para participar de um evento literário promovido pelo Conselho Editorial do Senado (Cedit) e pela Livraria do Senado, com apoio do mandato do senador e presidente do Cedit Randolfe Rodrigues, pensei "bom, é isso, vou entrevistar um burocrata". Ainda mais quando fui estudar um pouco sobre o seu currículo.

Ok, confesso minha ignorância. Tudo que eu sabia, até então, sobre o senhor Lucchesi era que ele era um imortal da ABL, que já havia presidido aquela instituição e que, atualmente, está na presidência de outra importantíssima instituição brasileira do mundo dos livros, a Fundação Biblioteca Nacional. Eu só sabia isso, repito, e já achava que era coisa demais! Mas daí comecei a pesquisar e quanto mais eu pesquisava, mais me surpreendia: Poeta, romancista, memorialista, ensaísta, tradutor e editor, possui uma produção de fôlego e é detentor de mais de 50 prêmios e distinções importantes, dentre eles: Medalha da Ordem Nacional do Mérito Científico; Medalha Rui Barbosa; Medalha do Mérito Santos Dumont; Doutor Honoris Causa, pela Universidade Aurel Vlaicu de Arad (Romênia); Prêmio Jabuti de Poesia (2014 e 2003) e de Tradução (2001); Prêmio Machado de Assis e, a mais recente, como membro honorário da nossa Academia Amapaense de Letras...

 

É professor titular de Literatura Comparada na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); tem graduação em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e recebeu os títulos de Mestre e Doutor em Ciência da Literatura, pela UFRJ. Realizou estágio de pós-doutoramento, Capes/Daad, no Petrarca  Institut  da Universidade de Colônia, Alemanha, centrando sua pesquisa na Filosofia do Renascimento.  É pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)... E haja reticências!

 

Mas o que mais me chamou atenção neste entrevistado, ainda na fase de pesquisa, foi ver que sua biografia é recheada de encontros com pessoas que sempre admirei. Outra confissão: Me bateu uma inveja danada por ele ter não só conhecido, mas até convivido com figuras como Nise da Silveira, Carlos Drummond de Andrade e Umberto Eco _ só para citar meus preferidos.

O poeta poliglota, que domina mais de 20 idiomas (incluindo o Nheengatu, a língua originária brasileira), já havia a esta altura conquistado minha simpatia só por também fazer parte da comunidade esperantista _ jes, ankaŭ mi parolas Esperanton! _  e, assim como Zamenhoff, ter criado sua própria língua artificial, o “laputar”.

 

E eis que chega o grande dia! Diante de mim naquela antesala barulhenta do auditório da OAB-AP, que servia como ponto de venda itinerante da Livraria do Senado, estava um homem extremamente simpático, gentil e atencioso que me olhava com aquele olhar próprio dos que amam o saber. Ele se mostrava interessado no que eu falava _ ou pelo menos tentava compreender o que eu gaguejava de nervoso... Foi ele quem propôs mudar o local da entrevista para uma área externa do prédio, onde fazia menos barulho, e não se importou em ficar ali plantado, de pé, por cerca de meia hora, respondendo às minhas perguntas com total entusiasmo.

Fotos: Lulih Rojanski

O Zezeu: Como o senhor prefere ser chamado? Professor? Presidente?...
Marco Lucchesi:
Não me chame professor, me chame de Marco. Eu sou, principalmente, escritor, o resto é o que se agrega. Somos colegas.

OZ: Perfeito. Marco, então... quais são os principais desafios enfrentados hoje pela Biblioteca Nacional na era digital? E como a instituição tem se adaptado para garantir o acesso democrático e amplo ao acervo?

Marco Lucchesi e o jornalista Silvio Carneiro

ML: Bom, a Biblioteca Nacional tem um pioneirismo em relação à sua capacidade de digitalização e de compartilhamento ao público desse grande tesouro _ vastíssimo oceano _ que é a Biblioteca Nacional.

 

Para que se tenha uma ideia, a Biblioteca Nacional tem, anualmente, 100 milhões de acessos. E a Hemeroteca Digital _ não só a Brasiliana Fotográfica, mas a Hemeroteca Digital como um todo_ dá à cidadania uma capacidade de acesso imediato, sem qualquer tipo de pedido de permissão. E mais! Com uma extrema facilidade de, por exemplo, percorrer, bastando colocar apenas uma única pergunta, um único nome, todos os jornais ao mesmo tempo, em que aquele nome esteja contido.

 

Então a Biblioteca implantou, desde 2006, com um pioneirismo absolutamente extraordinário e ela é exemplo para muitos países do mundo em relação não só à forma de digitalização e disponibilização, mas, insisto _ e vou dar um exemplo rápido se me permitir _ a facilidade dessa busca. Por exemplo: Vamos supor que você agora, na sua casa, me diz, "Marco, eu perdi meus óculos", e a sua casa tenha 100 cômodos. E eu digo, "sim, mas em que cômodo foi"? "Ah, Marco, eu não sei. Então, eu tenho que procurar em todos"? "Vai". Isso é que muitas bibliotecas às vezes oferecem. Você tem que abrir gaveta a gaveta nesse exemplo metafórico, cômodo a cômodo. A Biblioteca Nacional, não. Ela abre tudo ao mesmo tempo e ela só vai dizer onde estão os óculos e os óculos vão aparecer naquele quarto. Então, é muito simples o manuseio, é muito friendly, como se costuma dizer, muito amigo.

 

Então, a gente está ampliando essa capacidade de digitalização. Nós precisamos ampliar o espaço, o storage, que é muito importante, e temos tomado todas as medidas  necessárias. Já há todo um projeto importante olhando para isso.

 

Por outro lado, a Biblioteca também é física. Nós conseguimos, graças à boa administração da ministra Margareth Menezes, à nossa participação e dos funcionários, R$60 milhões dirigidos para o anexo da Biblioteca Nacional. Porque é uma única biblioteca, mas como se fossem duas, uma física e outra digital, cada qual tem o seu percurso, o seu meio, os seus desafios. E pela primeira vez na história da Biblioteca Nacional nós conseguimos esse aporte muito importante de R$60 milhões. Com isso, vamos adiantar muita coisa necessária e que há anos, diria mesmo há décadas, se espera.

 

Sempre esteve bem cuidado, mas agora vamos dar os elementos mais importantes.

Marco Lucchesi

OZ: Eu estive lendo recente um artigo, acho que da época da sua posse, um artigo que foi publicado lá pela Academia Brasileira de Letras, comentando que nessa gestão teria desafios, que seria a questão do espaço físico, como você falou agora, a questão de recursos e a questão de pessoal. Hoje, como presidente da FBN, diante desses desafios, quais são as iniciativas que você considera mais eficazes na preservação e digitalização desse patrimônio literário brasileiro e como essas iniciativas podem contribuir, também, de certa forma, até com instituições parceiras, como é o caso da ABL?

ML: Eu diria que nós temos tomado muitas iniciativas. Estamos há um ano e algum tempo com isso. Nós abrimos, por exemplo, alguns serviços que são essenciais da Biblioteca Nacional, que não estavam sendo realizados por uma série de dificuldades mesmo, porque esse triângulo específico [espaço, recursos e pessoal] _ eu tenho visitado o Vaticano, firmei um pacto com o Vaticano, com a British Library, as bibliotecas da África... _ o problema é sempre o mesmo para todas elas. Claro, dependendo das circunstâncias, de todo o entorno, mas é sempre esse grande tripé.

 

Mas aí nós temos uma série de questões: Primeiro, garantimos as obras do anexo, que é uma vitória extraordinária a respeito disso. Em segundo lugar, a Biblioteca Nacional tem um serviço de intercâmbio nacional que estava parado. Nós estabelecemos um pacto com a Marinha e a Marinha leva, fazendo aquilo que eu chamo diplomacia do livro, para todo o globo terrestre. E, de modo especial, também tem ido muito à África, o que nos facilita muito nessas relações sul-sul, que é também alguma coisa que nós estamos realizando. Depois, nós fizemos uma série de relações de proximidade com o IBICT, Instituto Brasileiro de Informação e Ciência e Tecnologia, que é um patrimônio importantíssimo, diante do qual não pode não haver diálogo, e o diálogo estava um pouco, como que digamos, não necessariamente à altura das necessidades. Estamos estabelecendo esse pacto muito importante.

 

Vamos discutir, por exemplo, num próximo seminário, a presença da inteligência artificial, a forma pela qual nós podemos tirar o melhor proveito, as questões éticas, etc. Por outro lado, nós estamos estabelecendo um laço importante que a República Brasileira tem na Biblioteca Nacional, e não só no Brasil, uma das grandes jazidas de preciosidades que estão disponíveis no mundo. Então, a partir disso, nós estamos organizando uma proximidade maior com algumas instituições de Estado.

 

Assinamos com o STF dois importantíssimos protocolos, entre os quais um que fala das boas práticas de informação das fake news, assinamos isso com o ministro Barroso; ontem eu fiquei muito feliz porque o CNJ premiou a iniciativa que partiu da ministra Rosa Weber, de que eu tive a glória de ser o curador de tradução da nossa Constituição, Constituição de 88, para o Nheengatu, a primeira língua originária. Então, isso também nos levou a reatar as relações com o STF, porque, por exemplo, há mais de um século o presidente do STF não ia à Biblioteca Nacional, e em menos de três meses, dois presidentes estiveram, a ministra Rosa Weber e o ministro Barroso. Estamos ampliando com o Senado uma relação importante. Estamos dialogando e já temos um pacto importantíssimo com a Câmara. São muitas frentes de trabalho e de ação.

OZ: A Fundação Biblioteca Nacional possui, como a gente já falou aqui, um acervo vasto, diverso. Quais são os critérios, as estratégias utilizadas para a curadoria e, principalmente, para a conservação desse material que é tão amplo, ainda mais agora que existe um projeto de expansão?
ML:
Bom, a Biblioteca é Nacional porque ela recebe o depósito legal [ver LEI Nº 10.994 de 14 de dezembro de 2004]. Por isso mesmo ela recebe, por

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exemplo, uma banca de jornal por dia. É um número absolutamente fantástico, avassalador, e eu gosto de dizer que a Biblioteca Nacional realiza, a seu modo, uma defesa do infinito, ou do transfinito, mais propriamente dito. Mas de qualquer modo, dessa grande quantidade de massa e de informação.

 

A Biblioteca Nacional tem uma política de desenvolvimento de coleções e uma política de preservação e de conservação _ para abrir um brevíssimo parêntese e não fugir da sua pergunta, que é muito instigante, para o Rio Grande do Sul a Biblioteca Nacional começou a fazer algumas ações importantíssimas, entre as quais, no campo da preservação e da conservação, uma inscrição no site para que as bibliotecas se inscrevam e a Biblioteca Nacional possa realizar, dentro da sua medida, todos os esforços possíveis para, digamos, minorar os males. Estamos fazendo, sob a liderança da ministra Margareth Menezes, uma enorme doação, quando seja possível, que as águas baixem, a partir da colaboração entre o MINC e os Correios, e algumas pílulas muito interessantes para os cidadãos, de forma geral. Por exemplo, uma foto. A foto está molhada, como é que a gente faz? Um livro que se perdeu, que está com lama, como é que se recupera... Tem uma série de questões importantíssimas a respeito disso, que é o lado social da biblioteca.

 

Olha, a expansão, como você diz, ela é intrínseca à própria Biblioteca Nacional. Agora, é claro que nós temos que pensar sempre _ como nas nossas conversas que temos tido com os países de África, com o próprio Vaticano, com a British Library, com Cuba, com a qual assinamos um acordo importante _ , de fato, essa ideia de um universo inflacionário, no bom sentido da palavra, que vai tendo, obviamente, todos os cuidados necessários de guarda, de conservação e preservação.

 

É claro que nós agora estamos esperando uma absorção maior por concurso de funcionários _ o resultado desse dogma deplorável do Estado mínimo, e quando a cidadania vai precisar dos serviços, o Estado mínimo, como o próprio nome já diz, é tão mínimo que não funciona.

 

Agora, reconstruir isso não é uma questão ideológica, política, é uma questão de cidadania plena, de República. Então, acho que nós estamos caminhando com todos os desafios para adiante.

Marco Lucchesi

OZ: Considerando a diversidade cultural e linguística do Brasil, como a Fundação Biblioteca Nacional está trabalhando para garantir a inclusão de vozes diferentes, das diferentes regiões e grupos étnicos em seus projetos de ampliação de acervo?
ML:
Não adianta falar numa biblioteca republicana e cidadã sem que esse pressuposto que você traz agora com muita oportunidade, seja contemplado. A Biblioteca precisa ser uma casa republicana, como todas as instituições desse país.


Algumas medidas foram tomadas. Nós começamos organizando dois dossiês digitais importantes sobre a questão das etnias e sobre os quilombos. Essa é uma primeira parte. Mas há uma outra parte também muito importante, que nós recebemos o depósito legal no ano passado, quando, juntamente com o Conselho Nacional de Justiça, nós apresentamos, pela pesquisa do CNJ, o

Senso das Leituras dos Espaços de Privação de Liberdade. E naquele momento também fizemos um grande esforço para que muitos livros mais artesanais ou com maior dificuldade de localização geográfica, através da Senappen [Secretaria Nacional de Políticas Penais], que esses livros produzidos pelos apenados chegassem às prateleiras da Biblioteca Nacional.

 

Mas fizemos mais! Nós estabelecemos um novo prêmio na Biblioteca Nacional o ano passado, logo que assumimos, chamado Prêmio Akuli, que foi a experiência que eu fui tendo, visitando muitos _ como hoje, aqui, eu estive no quilombo [do Curiaú] _ quilombos brasileiros, terras quilombolas e terras indígenas, e vendo a necessidade e a nostalgia da terceira geração, buscando os avós para resgate da música, dos provérbios, da língua. Então nós concedemos _ e o ano passado houve já um vencedor _ um prêmio específico para a tradição oral, o Prêmio Akuli, em que a fixação oral é contemplada.

 

Mas não parou por aí! Nós estamos realizando também um encontro importante _ já conversamos com a Fernanda Kaingangue, com a ministra dos povos originários também, a nossa querida amiga Sônia Guajajara, e estamos trazendo aos poucos uma expertise para a ampliação do contemporâneo nessa área. Estamos também estabelecendo uma relação com a Fundação Cultural Zumbi dos Palmares, com o seu presidente João Jorge, também para que, numa troca importante, nós possamos realizar alguns trabalhos técnicos da Biblioteca Nacional para a nova biblioteca que está sendo reorganizada, com muita alegria. Eles também estabelecerão uma curadoria _ não uma curadoria branca, que não faria sentido, ou uma curadoria não indígena _ trabalhando com esses pressupostos.

 

Estabelecemos um memorando com o IBGE, porque a nossa consideração é que a Biblioteca Nacional precisa auscultar a profundidade do batimento cardíaco do Brasil, culturalmente falando, mas sobretudo na capilaridade. Nós estamos também trazendo, a partir da minha experiência de visita do cárcere e das prisões, um importante material que está sendo elaborado aos poucos, através de doação.

 

Enfim, nós estamos fazendo o que, aliás, não há novidade nisso. A Biblioteca Nacional é um produto de várias gerações, e cada geração tem diante de si um determinado desafio, a partir do qual ela vai tentar dar a melhor ou a resposta possível.

 

Nós também temos a Memória da Poesia Brasileira, que começou o mês passado. O poeta vai ser entrevistado _ porque nós sentimos essa falta de uma memória do poeta brasileiro de forma geral _, abre-se ao público, e o poeta depois contribui com alguns manuscritos, que são doados para esse novo fundo dos manuscritos da Biblioteca Nacional. Estamos trabalhando muito.
 

OZ: Por fim, quais são as principais estratégias da Biblioteca Nacional para promover a leitura e o acesso à informação em um país onde o índice de leitura ainda é considerado baixo? E como essas estratégias podem ser aplicadas em parceria com outras instituições?
ML:
 Esse é um desafio de todos, de todo o Brasil. Não é de uma instituição, é de todo mundo ao mesmo tempo, dos nossos primos, filhos, conhecidos, professores, colegas...


Isso é uma das tarefas essenciais _ do Proler [Programa Nacional de Incentivo à Leitura] e da Biblioteca Nacional. A partir de 2014, isso está com o Minc, e nós temos tido uma relação muito, muito bonita com o Fabiano Piuba e o Jéferson Assumção, estabelecendo uma parceria da qual eu me orgulho muito, porque é um fluxo contínuo de diálogo _ mas a tarefa principal é a deles _ porque nós podemos entrar como uma instituição que

Marco Lucchesi

tem paixão pela guarda dos livros e por algumas questões muito importantes. Quando eu encontrei o então ministro da Justiça Flávio Dino, eu disse "olha ministro, o senhor que tem combatido as fake news, a Biblioteca Nacional faz justamente isso. Ela combate fake news porque ela é uma fábrica: ela recebe o livro, ela lê os dados, produz metadados, diz onde deve estar, divulga e amplia. Então nós somos uma fábrica democrática de uma república dos livros onde não há censura, onde ninguém está condenado a nada, onde todas as partes entram e informamos ao público onde está e num clique pode-se ter acesso à obra, obviamente dentro dos limites possíveis, uma obra física etc etc". Então o que nós estamos realizando é primeiro pensar efetivamente a cultura, a leitura e o lugar republicano disso no mundo.

 

A Biblioteca Nacional tem um programa que agora também vai receber 1 milhão de reais que é a Bolsa de Apoio à Tradução de Brasileiros no Exterior. Conseguimos, até hoje, contemplar desde as décadas que ela já existe, mais de 600 editoras em quase todo o globo terrestre.

 

Será lançada, no final do ano, a Revista do Livro. Ela está renascendo. Mas agora ela terá um compromisso de estudar. Por exemplo, nesse próximo número: Inteligência Artificial, leitura, leitores e cidadania.

 

Realizamos o primeiro seminário com as bibliotecas dos PALOPS (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), então nós estamos numa grande integração para pensar o livro, a leitura, a biblioteca.

 

Até hoje, para que se tenha uma ideia, muitas vezes as pessoas dizem assim, "ah, mas a Biblioteca Nacional precisa se abrir". Eu respondo sempre assim, "olha, nós temos 100 milhões por ano, a Brasiliana Digital tem 25 milhões, são números muito expressivos".

 

E a Biblioteca Nacional não é uma biblioteca pública! É claro que ela tem interfaces, porque é missão dela também. Mas não é missão essencial. Então, a biblioteca, por exemplo, até hoje [22 de junho], ela teve 55 mil visitantes. Não é um estádio de futebol, entendeu?! Então, há limites de segurança, de cuidados, de atenção... Mas é um número importante porque nós temos, uma visita guiada muito vitoriosa, consagrada há muitos anos. Então, acho que é compreender _ e acho que isso é essencial, e tenho repetido isso muitas vezes _ que para que a gente faça, de fato, a defesa democrática do nosso país, temos que apostar em duas questões: A diversidade _ é tão óbvia, mas é bom lembrar o que é óbvio, porque durante algum tempo nem foi lembrado o óbvio, aliás, o óbvio foi atacado _ mas, sobretudo, são aquelas características de ampliar a espessura da nossa República. Porque, à medida que a gente amplia essa espessura republicana, a gente garante a democracia.

 

Dou um exemplo: Quando eu vou ao cárcere, eu vejo rapazes, em Bangú, segurança máxima, por exemplo, onde eu vou sozinho, às vezes escoltado, aqueles rapazes que estão lá, considerados perigosos, eu digo, por exemplo, pra eles "vocês são muito inteligentes"! _ e, de fato, são_ Mas, infelizmente, não encontraram uma condição republicana que chegasse capilarmente até aquele ponto, e esse é o grande desafio do Berasil. Eles encontraram, infelizmente, o braço da repressão e da não escola.

 

E lá dentro _ eu estive agora também, semana passada, no [presídio] Evaristo de Moraes _ encontrei uma pessoa que ganhou um concurso importantíssimo, numa prova que ele fez, dentro da escola prisional, e ele disse assim, "não, eu não pude estudar, porque era muito difícil estudar e trabalhar, mas aqui, professor" _  falou com uma grande beleza _ "eu estou me dedicando de corpo e alma".

 

Então aí você vê que, quanto mais espessura republicana a gente puder oferecer e enquanto houver prisão, vamos ampliar as escolas prisionais, vamos abrir as vagas nas prisões. Não é só aí que a gente vai começar, mas fora, ao mesmo tempo. Então é um trabalho hercúleo e é para todos: É pra mim, é pra você que está me entrevistando, pensando na questões culturais, em Macapá, refletindo, não só, mas também, a partir do território que enriquece muito, que é o trabalho da sua revista, acho que é por aí.

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