Freud e a coisinha aqui no canto da unha
Hoje acordei cedo e fui comprar flores, resolvi enfeitar a casa, depois andar na praia, pensei em fazer poesia no computador, tenho um amigo que faz tudo no computador... inclusive sexo, versos no computador... fazer confissões ao meu amigo de brinquedo. Seriam versos fora de foco e... desisti. À tarde eu ainda me sentia forte, saí, comprei tinta, pincéis, telas, me sentia um pintor. Nada de Dali, Picasso, amo Miró, cores vivas, vida viva, vida sempre nova. Cores de angústia e de futuro. E o computador ligado. Ora, ora pra que serve um computador quando as tintas estão à minha espera, o peito arde e o espaço vazio é um desafio? Pra que serve um computador a não ser para esfriar a dor?
Não sei por que, mas estou com a sensação que não estou sendo entendida.
Meus fantasmas, meus ventos, meus perfumes e quem mais estiver me espionando, de uma vez por todas:
Olhem bem pra mim, estão me vendo, olhem com atenção, estão me vendo?
Mas eu não sou bem assim
me vêem grande, sou pequena
me vêem forte, estou caindo
me vêem corajosa, tenho medo
enxergam verdade, estou mentindo
eu não sou bem assim
olhem bem pra mim
já não me sinto aqui
não me vejo em nenhum lugar
estou solta, solta
não aprendi a acreditar
tenho a alma gelada e o olhar distante
eu olho pra todo lado, não me olhe assim
como se eu fosse fugir
eu não sou bem assim
Sou daquelas pessoas que ninguém sente falta, por quê:
Acredito na integridade da palavra “não” e desprezo a mediocridade/falsidade da palavra “união”.
Viver é muito diferente de obstaculizar a morte e no amanhecer dos meus sapatos solitários escuto os passos de alguém igual a mim. Num outro país.
O espaço necessita do suor e do grito, outra ação é pura incapacidade. E quando me calo é pra me ouvir melhor. Não acredito e não aceito o argumento: “por que é assim!” Pois se é pra ser assim vou desfazer, desfazer pra fazer de novo, do meu jeito.
Mas que merda, tô com uma coisinha aqui na unha!!!!!!!!!
E o tempo está passando.
Não consigo mais me masturbar nem ver novela, quando me preparo... me vem um cansaço!!!
Eu estou só por que quero e isso não é solidão. É preservação. Mas o tempo está comigo e o tempo... está passando. Eu gosto de falar sozinha, me agrada muito.
Muitas pessoas juntas... todas iguais, é praticamente um deserto.
Bom dia, boa tarde, mas não batam na minha porta, não sou deste mundo, a princípio todos são maravilhosos desde que mantenham distância. Não preciso de ninguém agonizando seus planos em minha presença, detesto ser testemunha, não venham fundir suas melancolias com minhas trapaças.
Tenho uma mala cheia de fotos., tudo amarelo... mala e fotos. Tenho parentes que são tão amarelos quanto as fotos e o mais grave: se dizem felizes.
O tempo está passando e eu quero voltar ainda hoje, não sei se chego de surpresa ou seria melhor avisar? Será que consigo aprender a dançar em tão pouco tempo? Olha ele de novo, o tempo. Também posso me dar mais tempo e sair amanhã, não gosto de saber que estão à minha espera. Eu gostaria tanto que meus sentimentos predominassem soterrando os desejos práticos. Voltar significa... significa... quer dizer... pode significar um recomeço ou também...
Uma vez eu pensei em fazer dessa vontade de voltar pra casa uma peça de teatro, logo desisti. Era muito simples... muito “simplezinha, simplinha demais” a história, muito parecida comigo e então desisti, mais tarde me apaixonei por uma cineasta, platonismo terminal, e decidi que minha história viraria um filme mas desisti. Continuava simples e precisava sexo, muito sexo e alguns assassinatos e eu vivo uma vidinha nada cinematográfica, sexualmente até que a safra tem sido boa mas nunca matei nem sou amiga de assassinos, e então desisti.
Hoje eu agradeço a esse rompante de lucidez. Me arrepio só de pensar em fazer da minha vida uma peça de teatro, uma maluca no palco mostrando as entranhas da minhas dúvidas... que vergonha... que baixaria... e depois da apresentação a atriz me apresenta: “esta aqui é a autora do texto”. Não, não e não ... é melhor fazer tricô, aprender a bordar.
Alguém sugeriu um psiquiatra? Meu bem eu sou psicóloga, me conheço a fundo, sou uma pessoa firme “centrada”, canalizo minha energia vital para elaborar enigmas existenciais a fim de gerar movimento, tenho uma cabeça boa, nunca tive piolho. Tem algumas coisas em mim que eu não gosto, mas me conforta saber que já fui pior. Dúvida é uma palavra que desconheço o significado, nunca vacilo, nunca. E os psiquiatras são usinas de dúvidas produtoras de dependências. Mas por que eu tinha que inventar essa história de voltar... e assim tão em cima do laço, hoje ainda ou amanhã, avisar ou não avisar papai? Um tarôzinho seria de grande utilidade agora. Onde eu escondi meu baralho?
Tudo que é ruim na vida é feminino, masculino é sempre o começo, o início da merda é sempre macho: sexo, nascimento, aprendizado, presente, futuro, etc...depois, vem as desgraças: amamentação, infância, adolescência, ansiedade, rugas, reposição hormonal, menopausa, plástica, rugas, varizes, lembranças, avó, tia, camisinha, próstata, neta, rugas, morte...
A mulher está em permanente convivência com a barbárie.
Que merda essa coisinha aqui na unha tá me incomodando desde que acordei!!!!
Eu nunca contei isso, mas agora o tarô diz que preciso fazer uma revelação. É... é verdade... eu já fui mãe e meu filho morreu. Uns idiotas dizem que minha vida mudou a partir daí, foi quando me dei conta da mediocridade do ser humano. Toda vida está sempre mudando, será que eles sabiam como seria minha vida caso meu filho sobrevivesse? Minha maternidade durou seis meses e já foi dissecada por mim. Talvez tenha embrutecido um pouco a minha vida, a morte tem uma mentalidade exageradamente autoritária e quando a morte passa assim tão perto não há como fugir do degredo... da culpa. Aceitei o degredo sem confessar a culpa. Um filho não traz respostas, gera perguntas. Um filho morto continua fazendo perguntas... que nunca terão respostas.
Meu pai está vivo e eu preciso voltar. Meu pai não sabe dançar, nunca tentou aprender. Minha mãe sabia..., mas desaprendeu. A mais grata surpresa de minha vida foi ter nascido de quem nasci. Depois da infância que eles me deram nada mais tem graça.
É essa coisinha aqui no cantinho da unha, não sei como se chama isso mas nasce aqui, aqui no cantinho da unha. E dói, e puxa fio da meia, e pode até arranhar... dependendo de onde você ponha o dedo... ou a ponta do dedo.
Agora me ocorreu um pensamento extremamente grave, filosófico até, prestem atenção: “ a camisa de vênus é um muro de Berlim”.
Eu vou ligar pro meu pai pra saber se ele viu vagalumes ontem à noite.
Papai era professor, ainda bem que desistiu pouco antes de eu nascer. Deve ser deprimente ter que ensinar raiz quadrada, logaritmos e outros produtos da quitanda de inutilidades. E os professores ensinam essas maluquices, cheios de boa vontade. Masturbação eu aprendi sozinha. Ainda me serve!!!
Enquanto isso os absorventes íntimos estão a cada dia mais finos. E mais absorventes.
Preciso mudar de vida, me livrar das mentiras que me imponho, desencaminhar meus beijos das máscaras vaidosas. Sou inquieta, mas fiel como o girassol. Detesto a palavra “conselho”. Conselho é o caralho. E quem mais gosta da palavra conselho é velha. E conselho, pra piorar, geralmente vem da onde não existe a prática. Conselho não vale nada, até por que quando alguém resolve dar um conselho é por que a vaca há muito já se acostumou com o brejo. Não tem nada a ver com ensinamento que nasce da vivência. Me preocupo só com aquilo que posso resolver, o resto não me interessa, não é pra mim. Preocupação é uma merda. Eu sou assim... cheinha de detalhes... assim... fora do comum. Um canário que canta somente à noite. Simples! Ainda no ninho o pai falou: “você deve ser simples, você não pode ser vulgar”. O pássaro cresceu e quando chegou a sua vez construiu seu ninho atrás de uma cachoeira.
Agora começa a doer a ausência de meu pai. Por muito tempo tivemos a sombra um do outro fazendo companhia, mesmo ausentes estivemos sempre próximos, certa manhã.... certa manhã envoltos em nossa própria neblina desaparecemos um pro outro. Quero novamente correr atrás dos vagalumes na companhia do meu pai. Vou ensinar o meu pai a dançar. Nunca senti falta do meu filho que morreu. Quando o amor se faz breve, dura pra sempre. Já fui muito medrosa, muito mesmo, mas no dia que perdi o medo aprendi a inventar segredos e varri pra sempre a noite do meu quarto, mas a vida seguiu seu rumo triste, carregando mortos. Talvez um dia eu tenha outro filho só pra ouvir ele dizer o que disse o filho de uma quase amiga: “meu avô é o meu pai antigo”.
Mas seria bom amar alguém antes de ter um filho e aí se estabelece o problema: amar. Já tentei e não deu certo, nem o amor muito menos o filho. Para meu conforto resolvi colocar a culpa na minha pouca idade na época. Quantas vezes vocês já escutaram esta inteligente frase? “ Você primeiro tem que estar bem com você, se conhecer, para depois se envolver com alguém”. Mas como é que eu vou saber se estou bem comigo se vivo em permanente conflito? E olha que eu sou uma exceção, não é por nada não, mas eu sou psicóloga, jornalista, já escrevi uma peça de teatro e pasmem, não foi sobre a incomunicabilidade do homem contemporâneo, aaarrrrrrgggggghhhhhh!!! sou taróloga , entendo de cinema pra caralho, estou escrevendo um livro e o mais importante: sou centrada, analisada, traí todos meus namorados e namoradas, aprendi a canalizar minha ansiedade para o estudo da ópera e da música clássica. E sou defensora da tese que “a mulher amada não ama” e eu quero amar. Amor não é sossego, o verdadeiro amor se alimenta de solidão. No fim acabo encontrando um cara igual a tantos outros: mais um daqueles que guarda sapatos embaixo da cama, não corta os cabelos do nariz e das orelhas e tem pé cascudo. Detesto homem com pé cascudo!!! Meu pai não cuida dos seus pés. Vivi um tempo com um cara que foi embora, assim sem mais nem mesmo, extraviei muitos dos meus dias em suas armadilhas, um belo dia ele resolveu e foi embora, mas telefonava todos os dias dizendo que já tinha me esquecido. Depois... depois, não consegui amar mais ninguém, sofri um pouquinho, mas bem pouquinho mesmo.... nunca chorei, detesto gosto de lágrimas, minhas lágrimas escorrem do meu coração. Eu nunca falei disso pra ninguém... ninguém mesmo. Pensam que eu não penso que vou ficar só para sempre, eu uma tv e uma geladeira cheia. Não, cigarro não... depois vocês vão pedir uísque e aí é entregar os pontos sem esboçar reação. Eu desconfio, só desconfio que nunca mais vou me apaixonar. O medo gosta de se disfarçar de segredo. E no fim, tudo isso é barulho que ninguém escuta, como peixe no aquário, pra lá e pra cá... até que um dia amanhece de barriga pra cima. Depressão é uma amiga infeliz que me acompanha desde a infância, por enquanto ela tem sua extensão na primeira meia hora depois que acordo. Enquanto permanecer esta proporção formaremos um belo par, não tenho intenção de lhe roubar espaço, muito pelo contrário, e creio ser esta também sua intenção. Do contrário, a morte de um será o fim do outro. Pensei em escrever alguma coisa sobre meu pai, um livro,uma peça mas quanto mais escrevo mais só eu me sinto. Então... desisti.
Interessante!!!!! Agoro me dou conta... quando decido mudar de vida eu resolvo voltar pra casa da minha infância... pro colo do meu pai... Muito interessante!!! Garanto que alguém pensou: Freud explica. Meu bem já inventaram tanta coisa melhor que Freud... tanta coisa!!!! Ao mesmo tempo eu me pergunto: será certo gastar meu coração com quem está longe? Quem está longe, está longe por que quer. Eu queria ser escritora, mas não me decido não sei por quê? Valorizo muito mais as emoções do que as construções... é impressionante como não me canso de olhar o mar. Felicidade é uma nuvem, é assunto pra depois do almoço, mas só pra quem não fuma. Quer saber por que eu sou tudo isso. Psicóloga, taróloga, jornalista, etc??? Por que eu não tenho vocação pra porra nenhuma. Não tenho obrigação nenhuma de chegar, de chegar lá ou mais adiante, sinto apenas vontade de sair sempre de onde quer que eu esteja. Minha mãe voava. Só duvida quem não voou com ela. E ainda hoje sinto suas mãos invisíveis afagando meus cabelos, hálito suave e voz doce dizendo a todo instante, a cada mudança de meus planos: “pode ir que eu aviso seu pai, pode ir, vai... vai”.