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A carta

A carta

Querida amiga,

Só recebi sua carta hoje, que bom que os Correios ainda levam sentimentos.

Tudo bem, aceito a empreitada: vamos falar de saudade. Não sei quando volto, já estou bem adaptado; tirei o nó da garganta e fiz um laço ao pé do peito. Nossa avenida Goiás aqui se chama Rio Amazonas (me perdoe a hipérbole). Em Macapá as noites são quentes; cá por estas bandas os anos todos encurtam os invernos. Veja só, já são quase seis, o sol ainda esturrica a tarde e o dia esvoaça a goela de tanto chamar freguês. Estou sentado olhando o rio, um poema me carrega o coração. Encalhei numa paisagem.

Sinto saudades, mas não me sinto distante. Da mesma forma não quero que você se sinta. Saiba que o mundo não passa de um céu de estrelas repetidas, e a saudade apenas um jeito de amar desatento.

Te mando um poema feito a mão pra te encontrar.

Do sempre seu,

Bruno.


Mais dia, se menos dia,
de tanto que te queria,
pra dentro de ti vou ser
o doce que estragaria
o amargo que é sem você.

P.S. Estou virando O Zezeu por aqui. Calma, depois te explico.

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